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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Nkisse Kaiangu vol. 1


CD Nkisse Kaiangu em homenagem as comemorações a Iansã que aqui na Bahia é sincretizada com Santa Bárbara, neste dia 04 de Dezembro.

IANSÃ


Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom, Vermelho e Rosa
Símbolos: Espada e Eruesin
Elementos: Ar em movimento, Fogo
Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte
Saudação: Epahei!

O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).

Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná.

A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.

Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiantes na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as actividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.

O facto de estar relacionada com funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e o seu número de paixões mostra a forte atracção que sente pelo sexo oposto. Iansã (Oyá) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças aos seus amores, conquistou grandes poderes e tornou-se orixá.

Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, portanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus sentimentos.

Algumas passagens da história de Iansã relacionam-na com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade, e é por isso que a menção aos chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, surgem sempre nas suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça.

Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence.

Características dos filhos de Iansã / Oyá

Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam.

São pessoas atiradas, extrovertidas e directas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam.

Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu génio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos, aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornem os senhores da situação.

Os filhos de Oyá, na condição de amigos, revelam-se pessoas confiáveis, mas cuidado, os mais prudentes, no entanto, não ousariam confiar-lhe um segredo, pois, se mais tarde acontecer uma desavença, um filho de Oyá não pensará antes de usar tudo que lhe foi contado como arma.

O seu comportamento pode ser explosivo, como uma tempestade, ou calmo, como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Piadinha Infame e Intolerância Religiosa em Feira de Santana

Foi publicado no dia 11/11/2009 no Blog do Paulão (http://www.programalivredopaulao.com.br) uma piadinha infame e de cunho pré-con ceituso contra simbolo de Culto de Religião de Matriz Africana intitulada: "Baixou o Caboclo" associado o Flailton Frankles então Secretário Municipal de Transporte e Trânsito a Exú Tranca Rua, classificado como “Caboclo Tranca Rua. Posteriormente republicada no Blog da Feira do Jornalista Jânio
Rego (www.blogdafeira.com.br) que questinado pelo editor deste blog disse nao agir com racismo e intolerância religiosa: "nao me lembro dessa piada racista republicada aqui por nós.... lembro é que o BF sempre fez matérias sobre o povo de santo, ,inclusive uma recente onde foram ouvidas pais e mães de santo, entre eles o juiz Walter Ribeiro Junior." As imagens falam por si.

Materia Original: http://www.programalivredopaulao.com.br/totalblog.php?pagina=6&id=11

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Justiça do Rio manda indenizar homem chamado de macumbeiro

Embora seja uma matéria já um pouco velha a colocamos aqui pois serve de base em outras ações visto que a decisão abre uma jurisprudência neste tipo de ação.

Um filho de santo do Rio de Janeiro receberá uma indenização de R$ 3.000 por ter sido chamado de macumbeiro por seu vizinho. Marcelo da Silva Gomes entrou com ação contra o mecânico Mauro Monteiro Pinto após ter sofrido agressões verbais quando passou em frente à casa do vizinho para fazer oferenda em seu culto religioso, em Paty de Alferes.

Candomblé, a origem da ecologia


“Kosi ewe, kosi orixá”

Sem folha não há vida, sem folha não há Orixá, diz a tradição yorubá importada para o Brasil com a mão-de-obra escrava, e que consubstancia a verdadeira experiência naturalista e panteísta da religião Candomblecista. Numa época em que o debate sobre a premência de salvaguarda do ecosistema se tornou transversal às sociedades modernas ocidentais, reforçado pelo protocolo de kyoto, é fundamental olhar as religiões afro-brasileiras, em particular as diversas nações do Candomblé, como exemplo de equilíbrio entre vivência religiosa/comunitária e ecosistema.

O ditado popular yorubá-nagô, kosi ewe kosi Orixá, representa o princípio fundamental de que a Natureza é a mãe de toda a vida, porque ela se liga directamente com as divindades-Orixás, ao ser elemento e representação simbólica da matéria central da divindade. Os negros yorubás, fons e bantus, fundaram a sua religiosidade com base em dois princípios vitais: a memória dos gloriosos antepassados e a força divina da natureza. Esses dois pressupostos transformaram-se, ou melhor, conjugaram-se tornando-se numa mesma realidade. Os antepassados são também forças da natureza. Assim, Oxum (Oșùn) rainha de Ijexá, representa também o rio Oxum que passa na mesma terra, Nàná, divindade fon, representa as lamas como origem das águas, Ossaîn (Òsónyìn) representa as folhas (ewe, insabas), matéria fundamental no Candomblé, onde são chamadas de “sangue verde dos Orixás”.

Nesse sentido, compreender o equilíbrio entre a natureza e o candomblé, a divinização do elemento natural, representa um caminho fundamental na compreensão do comportamento ecológico africano antes da consciência ecológica globalizada. Porque no momento em que o ecosistema se findar, em que não existirem árvores, plantas, águas naturais e cristalinas, pássaros de múltiplas cores, deixará de existir o Candomblé. A religião dos escravos anda de braço-dado com a preservação ecológica. Por isso, para o povo do candomblé e para a APCAB a preservação ecológica é uma questão de fé.

Ewé Gbogbo Kíki Oògùn

“Todas as folhas tem viscosidade que se tornam remédio”


Fonte: http://www.apcab.net/religiosidade-afro-brasileira/candomble-a-origem-da-ecologia/


Onilé, a terra-mãe


Onilé é uma divindade feminina relacionada aos aspectos essenciais da natureza, e originalmente exercia seu patronato sobre tudo que se relaciona à apropriação da natureza pelo homem, o que inclui a agricultura, a caça e a pesca e a própria fertilidade. Com as transformações da sociedade iorubá numa sociedade patriarcal ou patrilinear, que implicou a constituição de linhagens e clãs familiares fundados e chefiados por antepassados masculinos, as mulheres perderam o antigo poder que tiveram numa primeira etapa (um mito relata que, numa disputa entre Oiá e Ogum, os homens teriam arrebatado o poder que era antes de domínio das mulheres).

Os antepassados divinizados tomaram o lugar das divindades primordiais e houve uma redivisão de trabalho entre os orixás. As divindades femininas antigas tiveram então seu culto reorganizado em torno de entidades femininas genéricas, as Iá-Mi-Oxorongá, consideradas bruxas maléficas pelo fato de representarem sempre um perigo para o poderio masculino, e vários orixás tiveram dividido entre si as atribuições de zelar pela Terra, agora dividida em diferentes governos: o subsolo ficou para Omulu-Obaluaê e para Ogum, o solo para orixá-Ocô e Ogum, a vegetação e a caça para os Odés e Ossaim e assim por diante. A fertilidade das mulheres foi o atributo que restou às divindades femininas, já que é a mulher que pári, que reproduz e dá continuidade à vida. Constituiriam-se elas então em orixás dos rios, representando a própria água, que fertiliza a terra e permite a vida: são as aiabás Iemanjá, Oxum, Obá, Oiá, Euá e outras e também Nanã, que como antiga divindade da terra, representa a lama do fundo do rio, simbolizando a fertilização da terra pela água.

Onilé teve seu culto preservado na África, mas perdendo muitas das antigas atribuições. Hoje ela representa nossa ligação elemental com o planeta em que vivemos, nossa origem primal. É a base de sustenção da vida, é o nosso mundo material. Embora sua importância seja crucial do ponto de vista da concepção religiosa de universo, os devotos a ela pouco recorrem, pois seu culto não trata de aspectos particulares do mundo e da vida cotidiana, preferindo cada um dirigir-se aos orixás que cuidam desses aspectos específicos. No Brasil, como aconteceu com outros orixás, seu culto quase desapareceu. Certamente um fator que contribuiu para o esquecimento de Onilé no Brasil é o fato de que este orixá não se manifesta através do transe ritual, não incorpora, não dança. Outros orixás importantes na África e que também não se manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País que, por influência do kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe. Foi o que aconteceu com Orunmilá, Odudua, Orixá-Ocô, Ajalá, além da Iá-Mi-Oxorongá. É interessante lembrar que o culto de Ossaim sofreu no Brasil grande mudança, passando o orixá das folhas a se manifestar no transe, o que o livrou certamente do esquecimento. O culto da árvore Iroco também se preservou entre nós, ainda que raramente, quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaocá.

Na Nigéria mantém-se viva a idéia de que Onilé é a base de toda a vida, tanto que, quando se faz um juramento, jura-se por Onilé. Nessas ocasiões, é ainda costume pôr na boca alguns grãos de terra, às vezes dissolvida na água que se bebe para celar a jura, para lembrar que tudo começa com Onilé, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte.

# Reginaldo Prandi

Fonte: http://www.apcab.net/religiosidade-afro-brasileira/onile-a-terra-mae/